AS EMOÇÕES
Ouve-se frequentemente dizer que a razão em geral, e a mente, em particular, visam a suprimir as emoções. Tudo depende do que se entende por “emoção”. Se se tratar de perturbações mentais tais como o ódio e o ciúme, por que não nos livrar delas? Se se tratar de um forte sentimento altruísta.
A fé racional nos ensina a administrar os acessos de raiva malévola ou de ciúme, as ondas de desejo incontrolável e os medos irracionais. Libera-nos da imposição dos estados mentais que obscurecem nosso julgamento e são fonte de incessantes tormentos. Fala-se, então, em “toxinas mentais”, pois esses estados mentais intoxicam, verdadeiramente, nossa existência e a dos outros.
A palavra “emoção” provém do latim emovere, que significa “por em movimento”. Uma emoção é, então, o que faz movimentar a mente, seja ela em direção a um pensamento nocivo, neutro ou benéfico. A emoção condiciona a mente e a faz adotar uma certa perspectiva, uma certa visão das coisas. No caso do amor altruísta deturpada, no caso do ódio ou da avidez.
Como enfatizamos acima, o amor altruísta é uma tomada de consciência do fato de que todos os seres desejam como nós, ser libertados do sofrimento e se baseia no reconhecimento de sua interdependência fundamental, da qual participamos. O ódio, ao contrário, deforma a realidade ampliando os defeitos de seu objeto e ignorando suas qualidades. Do mesmo jeito, o desejo ávido nos faz perceber seu objeto como desejável em todos os aspectos, ignorando seus defeitos.
Deve-se convir que as emoções são perturbadoras. A emoção não é capaz de reforçar nossa paz interior e não nos incita ao bem do outro, podemos considerá-la negativa ou destrutiva; se destrói nossa serenidade, perturba profundamente nosso espírito e nos leva a prejudicar os outros, ela é negativa ou perturbadora. É o que diferencia, por exemplo, uma indignação vigorosa, uma “santa cólera”, diante de uma injustiça que testemunhamos de uma cólera motivada pela intenção de fazer mal ao outro.
O importante não é, então, esforçarmo-nos muito para suprimir nossas emoções, o que seria em vão, mas fazer com que elas contribuam para nossa paz interior e nos levem a pensar, falar e agir de maneira bondosa com os outros. Para isso, devemos evitar ser o joguete dessas emoções, aprendendo a dissolver as que são negativas à medida que surgem e a cultivar as que são positivas, aí já é a razão.
Devemos compreender também que é o acúmulo e o encadeamento das emoções que determinam nossos humores, que duram alguns instantes ou dias, e formam, a longo prazo, nossas tendências e nossos traços de caráter. Assim, se aprendermos a administrar nossas emoções da melhor maneira, pouco a pouco, de emoção em emoção, dia após dia, acabaremos transformando nossa maneira de ser. Essa é a essência do treinamento da mente e da razão sobre as emoções.