Armadilhas da Mente
O ser humano pode viver amordaçado dentro de si, ainda que sua língua esteja livre para falar. Pode viver acorrentado, ainda que suas pernas estejam soltas...(Augusto Cury). Isso é possível?
Sim, isso é possível sim, quando nos fazemos escravos da nossa mente e das quatro armadilhas que sufocam a nossa mente. São elas: Conformismo, Coitadismo, Medo de reconhecer os erros e Medo de correr riscos.
O CONFORMISMO
O conformismo é a arte de se acomodar, de não reagir e de aceitar passivamente as dificuldades psíquicas. O conformista amordaça o Eu, impedindo-o de lutar pelos seus ideais, de investir em seus projetos, de transformar a sua história. Não assume sua responsabilidade como agente transformador do mundo, pelo menos do seu mundo.
O conformista acredita que todas as coisas são obras do destino, já o ativista acredita que o destino é uma questão de escolha.(…) O conformista vê a tempestade e se amedronta, o ativista vê no mesmo ambiente a chuva e enxerga a oportunidade de cultivar. O conformista se aprisiona no passado, o ativista se liberta no presente.(…)
O conformismo é uma armadilha da mente que arrasta grande parte dos jovens e adultos.(…)Soterra habilidades, anula dons, contrai competências, bloqueia algumas funções mais notáveis da inteligência.(…) Vivem na superfície.(…)
O conformista é inerte e mentalmente preguiçoso, pelo menos na área em que se considera incapaz, inábil. Não exerce suas escolhas por medo de correr riscos. Não expande seu espaço por medo da crítica. Prefere ser vítima a agente modificador de sua história. Prefere ser amante da insegurança a parceiro do entusiasmo. Prefere enterrar seus talentos a dar a cara para bater.(…)
Agumas pessoas que foram desprezadas publicamente nunca mais se ergueram. Outras que foram abandonadas por quem amam nunca mais desenvolveram autoconfiança.(…) Sentenciaram-se à nulidade. Ninguém pode asfixiar, anular e amordaçar mais um ser humano do que ele mesmo.
Tornaram-se algozes do seu ser. Rotularam-se e se deixaram rotular. Alguns estão sempre auto-aprisionando, achando que serão sempre depressivos, fóbicos, obsessivos, para sempre. (…) Desconhecem o tesouro soterrado nas pilhas de suas perdas.(…)
Os conformistas são os reis das desculpas. Sempre têm justificativas para nao atuar, não treinar, não exercitar seu intelecto.(…)
Alguns conformistas vestem o manto da humildade, mas por dentro exalam o aroma do egoísmo. nem sempre o conformista é egoísta com os outros, mas certamente o é consigo mesmo. Não tem um caso de amor consigo mesmo, não usa todo seu potencial para executar seus sonhos e superar suas falhas.(…)
Alguns são mestres dos disfarces. Dizem que está tudo bem, não assumem suas reais dificuldades. Não pedem ajuda, nem treinam seu Eu para correr riscos. Têm medo de serem criticados, vaiados, vencidos.
Reafirmo que todos nós bebemos elevadas doses de conformismo em algumas áreas de nossa personalidade. Alguns são ótimos para resolver problemas dos outros, mas são péssimos para resolver os seus. Outros são intrépidos para estimular seus amigos a sair do lugar, mas não tem coragem de vencer sua paralisia. Preferem a falsa proteção do casulo em que se escondem a ousar viver em um mundo livre com suas nuanças e perigos.”
O COITADISMO
É a arte de ter compaixão de si mesmo, é o conformismo potencializado. O coitadista faz propaganda de suas crenças irreais, não tem vergonha de dizer: Sou desafortunado, sou um derrotado, nada que faço dá certo, não tenho solução, ninguém gosta de mim. São pessoas que tem um potencial e simplesmente jogam no lixo, nada é tão violento contra si mesmo.
Nem todo conformista e coitadista mais todo coitadista é conformista.
O coitadista demonstra seu complexo de inferioridade e às vezes acaba ganhado algo por se passar por coitadinho. Se faz de coitado para ter uma migalha de atenção e prazer dos que a rodeiam.
A autopiedade é uma característica negativa que bloqueia o prazer e o desenvolvimento das funções mais importantes da inteligência.
Reconheça um coitadista. São facilmente notados:
-Nunca mudam, não saem do lugar;
-São cansativos, repetitivos;
-pessimistas, fazem propaganda de sua miserabilidade.
Há também os ativistas que em alguma área de sua vida são coitadistas, são fortes para muitas coisas e frágeis para outras. Não conseguem parar de fumar, de beber, de serem irritados, impulsivos, viciados em trabalho. Acham que não conseguem mudar por terem tentado algumas vezes e não terem conseguido. Muitos coitadistas são autodestrutivos, muitas vezes cuidam dos outros e esquecem de cuidar de si mesmo, sempre se acham inferior e incapaz.
O coitadista geralmente não tem ambições, mas devemos ter ambição de ter uma boa saúde mental, ser tranqüilo, sábio, solidário, ter uma vida confortável, ter uma vida material e espiritual próspera.
Desejo e ambição são coisas diferentes. Desejo é superficial, ambição é um projeto de vida. Desejo é alicerçado pelo ânimo, ambição é alicerçada pela garra.
Os ambiciosos só descansam depois de atingirem suas metas, os coitadistas descansam antes de entrar na raia.
Não basta a energia do desejo, quem não tem uma ambição sólida de superar seus conflitos, tem uma grande chance de levar pro túmulo suas fobias, inseguranças, obsessões, baixa auto-estima.
O MEDO DE RECONHECER OS ERROS
O medo de reconhecer os erros e o medo de assumir que somos seres humanos com defeito, imperfeições, fragilidades etc. Quem brilha hoje, amanhã pode cair e dar lugar a outro que o substitua, por mais que não estejamos em primeiro lugar, sempre podemos revolucionar o ambiente em que vivemos, ainda que no anonimato.
Por vivermos numa sociedade onde valoriza os super-heróis, temos medo de assumir o que realmente somos seres humanos mortais, falíveis e imperfeitos. Gostamos de ver os erros dos outros, mas não os nossos.
A nossa vida é como um teatro, mas um teatro real, onde encenamos uma peça concreta. Quem representa essa peça, quem não se assume, quem não reconhece seus erros, vive superficialmente, não amadurecerá.
Todos sabem que errar é humano, mas insistimos em sermos deuses, temos a necessidade de sermos perfeitos. O medo da crítica, do vexame, do pensamento alheio, dos olhares sociais tem feito mentes brilhantes se apagarem. Quando alguém nos aponta uma falha trocamos de cor e mudamos de humor, nas relações onde o poder é desigual a situação é pior. Quando nos sentimos como deuses, não aceitamos ser corrigidos, ex. Quando um paciente corrige um médico, gera um escândalo. Quando um funcionário aponta as falhas de um executivo é sinal de irreverência. Quando um filho fala sobre um comportamento errado do pai, é um desacato.
O orgulho da pessoa que está em posição superior não aceita que apontem seus erros, não que um psiquiatra, um executivo, um pai não falhem. Este orgulho não deixa que a pessoa reconheça seu erro e peça desculpa.
Muitos pais querem que seus filhos reconheçam seus erros, mas não reconhecem seus próprios erros, querem criar filhos humanos, mas se comportam como deuses que não erram. Quanto pior for a educação que dermos a nossos filhos, mais importante será o papel da psiquiatra e psicólogo.
A pessoa que defende suas idéias está correta, mas a pessoa que defende muito sua posição revela uma grande insegurança, não se deixa influenciar, corrigir, repensar. Defender excessivamente nossa opinião reflete fragilidade.
Falar de si e reconhecer nossos erros é altamente relaxante e reconfortante, sermos perfeitos como deuses é muito desgastante.
O MEDO DE CORRER RISCOS
O medo de correr riscos bloqueia a criatividade, a liberdade e a ousadia. Há pessoas que enterram seus projetos e travam sua inteligência por medo de correr riscos, almejam escalar seus alvos, mas não ousam. Reconhecem suas fragilidades, assumem suas limitações, mas não ultrapassam as fronteiras. Para transformar muitos projetos em realidade é preciso correr riscos. Riscos de ficar doente, de ter crises financeiras, de ser assaltado, de ser vaiado, de ser criticado, de ser decepcionado por alguém, de ser frustrado pelos filhos, de ser traído pelo amigo.
Eliminar todos os riscos geraria pessoas individualista, agressivas, deprimidas, entediadas. Os riscos eliminam nosso orgulho, nos une, nos estimula a criar laços e experimentar a difícil tarefa de depender dos outros. Sem riscos nossa mente não teria criatividade, intuição, inspiração, coragem, determinação, espírito empreendedor, necessidade de conquista, não conheceríamos o sabor das derrotas nem o gosto da vitória.
Sem riscos não choraríamos, não erraríamos, não pediríamos desculpas, não teríamos a necessidade da humildade.
Não devemos viver uma vida arriscada, radical, irresponsável, não devemos colocar nossa vida e dos outros em risco, pois devemos cuidar de nossa vida com responsabilidade. Mas devemos saber que realizar sonhos, atingir metas, conquistar pessoas nos impõe riscos diários. Para conquistar pessoas é necessário surpreender, compreender, ser afetivo, ser carismático etc... Mas corremos o risco de invadir espaço, de ser desprezado.